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RESENHA: Xuxa: O Documentário

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Nave Xuxa pousando neste blog.

Antes de prosseguir com o conteúdo desta postagem, quero dizer-lhes que espero estar de volta à plataforma depois de tanto tempo afastado. Tenho escrito para este amontoado de códigos há dez anos e acho que é justo dizer que o que eu não apaguei dos registros do Blogger refletem meu crescimento e amadurecimento.

Estava há um bocado afim de voltar a escrever um blog, principalmente para expressão dos meus pensamentos e da minha arte - afinal, escrever também é arte e eu tenho a audácia de me considerar um artista das palavras. Portanto, considerei que a oportunidade perfeita de retomar esse projeto seria com um axunto muito próximo ao meu coraxão. Obviamente, estou falando da Xuxa.

⚠ PODE CONTER SPOILER ⚠

Desde antes da pademia, Xuxa tem lançado alguns projetos que refletem sobre sua história. O primeiro dele, uma autobiografia, foi recebida pelo público em geral com grande aceitação. Rumores de uma última turnê, um novo programa de televisão e um documentário ou cinebiografia começaram a circular, mas a COVID alterou tais planos. Avançamos para 2023 e uma série documental finalmente foi lançada pelo Globoplay.

Preciso abrir um sério parênteses: eu sou assumidamente um grande fã da Xuxa desde sempre. Foi a coleção de kits VHS e CD do "Xuxa Só Para Baixinhos" que começou meu gosto pela coleção de música - hobbie que não morreu e se define como um grande aspecto da minha personalidade. Por algum tempo, a figura da Xuxa foi um certo tabu, afinal, aquela criança viada que eu fui tinha como maior referência a mulher loira a qual o guri passava horas assistindo na televisão e nas fitas. Depois de adulto assalariado, comprei todas as coisas que tinha quando criança e ainda expandi a colexão além das fitas de vídeo.

No documentário em cinco episódios que é parte das comemorações dos sessenta anos de Xuxa, a rainha dos baixinhos reabre várias caixinhas do próprio passado - coisas incríveis e outras coisas muito dolorosas. Reencontros e visitas aos locais do passado ajudam a narrar essa história que só pode ser definida pela expressão "uma série de acertos".

Xuxa, o Documentário
Uma produção Globoplay;
Em co-produção com Conversa.doc e Endemol Shine Brasil;
Direção: Pedro Bial, Cássia Dian, Mônica Almeida;
Número de episódios: 5;
Número de temporadas: 1;
2023. Brasil. Disponível no Globoplay

Sei que de repente é difícil para a geração Z entender a importância da Xuxa ou mesmo entender como ela surgiu. Maria da Graça Meneghel nasceu em 27 de março de 1963. Apesar do ápice da carreira ter sido como apresentadora de programas de televisão, a loira começou como modelo. Xuxa estampou milhares de capas de revistas desde os anos 80, posou para capas de discos, catálogos, filmes, e muito mais. Na TV Globo, foi o principal rosto do casting da emissora carioca e se tornou recordista de venda de discos, com mais de 50 milhões de cópias vendidas.




Efeito reverso?

 A principal crítica que a produção recebeu na internet vem de uma percepção que a série, cujo objetivo é pintar Xuxa na melhor luz, acabou não alcançando tal objetivo e ainda fez com que o público ficasse do lado das figuras que foram ilustradas quase como antagônicas. Levando em consideração a participação da Xuxa enquanto curadora do projeto e seu envolvimento próximo com a narração do documentário, é óbvio que a história seria bastante favorável a ela. Não é um ponto negativo - ou mesmo positivo. Apenas algo que é extremamente comum em cinebiografias como esta.


A briga de Xuxa e Adriane Galisteu por Ayrton Senna

 


Talvez um dos capítulos mais memoráveis da vida da Xuxa tenha sido justamente o relacionamento que ela teve com Ayrton Senna. Não é um assunto que só agora ela decidiu falar publicamente, muito pelo contrário. Xuxa já falou diversas vezes que Senna foi um amor inesquecível. Acontece que o ex-piloto tinha uma outra namorada famosa: Adriane Galisteu. Por conta desses relacionamentos, as apresentadoras foram altamente rivalizadas pelo trono do grande amor da vida de Ayrton.

No documentário, Xuxa detalhou melhor o relacionamento que teve com Senna. Meneghel explica que pouco antes dele morrer, teve uma grande vontade de correr atrás do ex para uma conversa definitiva e mesmo sabendo que ele já estava em um novo relacionamento, ela simplesmente estava disposta a correr atrás de quem ela acreditava ser seu grande amor. Algo, que por sinal, me lembra um filme qualquer da Julia Roberts dos anos 90.

Naturalmente que essa confissão foi o suficiente que as pessoas comentassem que outra vez, o doc só ajudou a imagem de Galisteu.

Quem Senna amou mais é algo que ninguém poderá dizer realmente, nem mesmo a própria família dele. Esse mistério é algo que morreu com ele, então é natural que ambas estas mulheres passarão o resto dos tempos duelando pelo posto de grande amor de Senna e contando histórias que lhes favorecem.

Afinal, acredito que as duas conseguiram achar novos amores posteriormente - o que torna toda essa discussão algo sem a menor importância e aparenta mais um duelo de egos.


O incêndio no cenário do Xuxa Park:


Podemos dizer que a carreira da Xuxa tem alguns divisores de água, por exemplo: sair da Manchete e ir para Globo, depois trocar a Globo pela Record. Mas sem dúvidas há um acontecimento fatal: o incêndio que atingiu o cenário do programa Xuxa Park, em 2001.

Foi por muito pouco que ninguém morreu, mas foram 26 feridos e um trauma inimaginável para todos os envolvidos. Este foi o estopim para uma mudança muito grande na vida da Xuxa. O programa nunca mais voltou ao ar, mesmo com oito edições já gravadas que provavelmente jamais verão a luz do dia - e talvez nem existam mais nos arquivos da Globo.

O acidente foi a derrocada da relação entre Xuxa e Marlene Mattos, que se separaram pouco tempo depois. Os projetos com a TV Globo que se seguiram não alcançaram mais o sucesso visto anteriormente e é quando a imagem da Xuxa começa a ficar "engessada" e até saturada.

Há uma coisa que me incomoda e não é de hoje. A Globo fez o que pôde para manipular a história o melhor possível para que a história lembrasse desse dia como um acidente muito infeliz. Há muitos anos, quando a internet ainda era um lugar meio anárquico, era possível achar vídeos e notícias que inclusive a própria Xuxa contava que bem antes da gravação começar, pairava sob o estúdio um cheiro muito forte de queimado e isso foi ignorado pela produção. O desfecho da história já é bem conhecido.

Ou seja, o infeliz acontecimento poderia ter sido consequência de negligência por parte da Globo. Seja lá como for, jamais saberemos de fato o que de fato aconteceu nos bastidores, mas ninguém pode duvidar que esse foi o acontecimento mais traumático da vida da Xuxa.

Amor Estranho Amor:


Entre tantas controvérsias, a maior delas é o filme Amor Estranho Amor (1982). O longa dirigido por Walter Hugo Khouri hoje em dia já é amplamente considerado cult, mesmo assim, é sempre usado para dizer que a Xuxa é pedofila. Por muitos anos, esse filme foi um grande tabu e Meneghel não tocava no assunto. Não foi até recentemente que a loira começou a falar sobre o filme e até encorajar o público a assistir.

O documentário promoveu o reencontro de Xuxa e Marcelo Ribeiro - que na época era o menino com quem ela contracenou a tão lembrada cena. Na conversa, Ribeiro revela que o filme acabou minando suas oportunidades como por não sair da sombra de ter feito uma cena erótica com Xuxa. Ambos trocam experiências e pensamentos relacionados à obra e de certa forma fazem as pazes com o passado.

Maria da Graça

A minha parte favorita do documentário está entre os episódios 4 e 5, em que Xuxa volta ao passado antes de ser a grande estrela brasileira. É sem dúvidas a parte mais pessoal do documentário. Confesso que foi a parte que me fez sentir próximo à Xuxa por sentimentos que eu consigo entender pela minha própria vivência.

Em 1992, durante a gravação do último programa Xou da Xuxa, promoveram um encontro entre Xuxa e seu pai, que na época estavam brigados e sem se falar há algum tempo. O desconforto no rosto da apresentadora foi extremamente visível. Mesmo que pai e filha tenham se acertado anos depois, é indiscutível que a relação causou traumas. O exato oposto pode ser dito sobre a relação entre Xuxa e sua mãe. A conversa sobre o luto de perdê-la foi algo que me atingiu em um nível pessoal mais forte que todo o resto da temporada.

Mais aspectos da Maria da Graça são explorados quando ela reabre as lembranças sobre os abusos sexuais que sofreu na infância e na juventude antes e depois de começar a trabalhar como modelo. Discussões essas que não são novidades, mas que são extremamente necessárias e jamais podem deixar de ser faladas.

Eu até proponho um debate mais profundo: Pelé foi sim uma espécie de manipulador e abusador que encontrou uma menina de 18, 19 anos que não sabia muito da vida ainda. Enquanto Xuxa, ainda hoje, é extremamente criticada e as pessoas inclusive insistem em menosprezar muito do que ela tem a contar. A imagem do homem, por outro lado, atinge status de lenda.

Marlene Mattos: Anjo ou Demônio?

A parte mais esperada desse documentário foi o reencontro de Xuxa e sua empresária desde a TV Manchete, Marlene Mattos. Foram 19 anos juntas e 19 anos separadas. Marlene também é madrinha de Sasha Meneghel e a pessoa creditada por ter feito o fenômeno Xuxa Meneghel durar tanto tempo.

Como eu disse anteriormente, o rompimento veio pouco tempo após o incêndio do Xuxa Park, mas foi consequência de uma relação que estava cada vez mais desgastada. Existiam diferenças significativas entre as duas sobretudo do aspecto criativo. Xuxa sempre insistiu em querer trabalhar para criança e mesmo que fizesse projetos para o público mais velho, ela queria seguir com algo para os baixinhos. O que Marlene era contrária.

O encontro entre elas é tenso. Mas existe um aspecto chave para entender ao analisar esse momento: Estamos assistindo pessoas que são extremos opostos: Marlene é alguém racional e Xuxa é emocional e, portanto, as memórias e as narrativas estão profundamente afetadas por essas visões tão divergentes. É bem claro que o tempo não contribuiu para que pelo menos uma amizade fosse possível a esta altura do campeonato.

Acredito que nenhuma das duas está completamente certa ou errada. É notório que Marlene tem memória seletiva e escolhe as palavras que lhe serão favoráveis, mas o mesmo pode ser dito a respeito da Xuxa. Ninguém é absolutamente monstro ou anjo.

Infelizmente, é uma história que já foi contada e recontada desde que a indústria do entretenimento existe. É comum entre todas as grandes estrelas femininas da história. Vide Marilyn Monroe, por exemplo. Dito isto, por mais que a Marlene tenha obviamente feito um bom trabalho na carreira da Xuxa, não podemos normalizar abusos que, sabemos, não deixaram de ser incomuns nesta indústria.


Conclusão:

 


Existe uma regra para a produção de biografias como esta, sobretudo quando a narrativa está sob controle da pessoa de quem se trata: Você precisa de elementos dramáticos que reterão a atenção do público, mas que ao mesmo tempo sejam favoráveis àquele de quem se fala. Portanto, não considero que esta produção foge um só milímetro à regra. Muito pelo contrário. Talvez esta tenha sido a primeira vez que Xuxa conseguiu falar tudo o que queria como queria.

 A propósito, eu reconheço que minha visão como um grande fã é crucial em como eu recebo, absorvo e interpreto esse documentário. Mas "Xuxa, O Documentário" também me mostrou um lado desse ídolo que me fez enxergá-lo como uma pessoa com sentimentos e anseios profundos e pessoais próximos aos meus em alguns pontos.

Não acredito que Xuxa vá realmente parar, ainda que às vezes ela mencione aposentadoria, muito pelo contrário. Acredito que este é só o início e futuramente veremos mais revelações dela sobre ainda mais detalhes da própria vida.

Portanto, considero que este documentário seja um relato importante da própria Xuxa e um ato de retomada da própria voz e narrativa - e não há nada mais libertador que isso.


Vocês já assistiram este documentário? Quais suas opiniões a respeito? Deixem aqui nos comentários. Beijinho, beijinho, tchau, tchau!!

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